JORNADA DO EMBRIÃO

Há muitos passos importantes para alcançar o tão sonhado “positivo” no tratamento de fertilização in vitro. O embrião desempenha um papel de liderança na jornada.

A qualidade embrionária tem papel crucial na taxa de sucesso da fertilização in vitro. Por esse motivo, nós embriologistas temos a importante tarefa de analisá-los e classificá-los meticulosamente antes de transferi-los para o útero. Este “embrião ideal” é originado pela fertilização de óvulo e espermatozoide de excelente qualidade.

A jornada do embrião dentro do laboratório de fertilização in vitro leva de 3-5 dias e é cheia de obstáculos diários a serem vencidos, até chegar no estágio de desenvolvimento, onde passa a se chamar Blastocisto.

Como embriologista, te convido a conhecer de perto a emocionante Jornada do Embrião.

DIA -01

No laboratório de FIV, o dia que antecede a punção ovariana é quando preparamos todo material e meios de cultivo que serão utilizados, como;

  • Tubos de coleta de líquido folicular;
  • Placa de incubação dos óvulos;
  • Placa de cultivo embrionário,
  • Meios de cultivo
  • Micropipetas, microagulhas, desde outros.

Isso acontece com 24h de antecedência, justamente para que os meios de cultivos utilizados estejam com o pH e temperatura ideais para receber os óvulos e posteriormente os embriões.

DIA 0

Punção Ovariana

Os folículos ovarianos são uma espécie de bolsa cheia de líquido, dentro das quais se encontram os óvulos. Eles se formam ainda na fase intrauterina, quando a bebê está crescendo no ventre da mãe. No tratamento de fertilização in vitro após a indução de crescimento folicular realizamos a punção ou aspiração folicular é um procedimento que visa extrair os óvulos do interior dos folículos. Um folículo tem apenas um óvulo e às vezes o folículo pode não ter nenhum óvulo. Por exemplo podemos ter 10 folículos, mas ter 8 óvulos, essa variação depende de cada organismo.

Todo óvulo coletado na punção ovariana pode ser utilizado?

Após a aspiração folicular, esse líquido aspirado vai para o laboratório, onde realizamos a captura dos óvulos. Porém nem todo ovulo coletado pode ser utilizado para ICSI.

Utilizamos somente óvulos maduros (MII) e com morfologia normal são utilizados para fertilização.

Ao final da coleta ovular, os óvulos capturados são armazenados na incubadora até o momento da ICSI.

O que é ICSI?

A ICSI, ou Injeção Intracitoplasmática de espermatozoides, é uma técnica de alta complexidade da reprodução humana assistida. Essa técnica é realizada por meio de um microscópio invertido e microinjetoras, onde acoplamos microagulhas utilizadas para injetar um único espermatozoide, previamente selecionado, diretamente dentro do óvulo para que a fertilização possa ocorrer, essa injeção acontece em até 4 horas após a coleta dos óvulos. Estes óvulos após serem injetados são transferidos para uma plaquinha com microgotas de meio de cultivo coberta com óleo mineral, e armazenada em um incubadora de última geração, criando um microambiente ideal (pH, pressão atmosférica e temperatura) para que ocorra a fertilização e posteriormente o desenvolvimento embrionário.

Momento da injeção do espermatozoide no óvulo

DIA 01

De 16 a 18 horas após a ICSI, retiramos a plaquinha da incubadora e a levamos para o microscópio, onde já é possível observar os pronúcleos (PN) que se formam no citoplasma do óvulo. Se observamos 2 PN, quer dizer que este óvulo fertilizou (1 PN do óvulo e 1 PN espermatozoide). A taxa esperada de fertilização dos óvulos é >70%. Após essa checagem fotografada e documentada, voltamos com a plaquinha para incubadora, esse processo dura em média 2-3 minutos.

Visualização dos 2 Pronucleos no citoplasma do óvulo

DIA 02

Como neste dia começam as primeiras divisões celulares, seguimos o protocolo de não realizar a checagem.

DIA 03

Já se passaram 72h desde a ICSI, neste dia retiramos a plaquinha da incubadora e a levamos para o microscópio onde classificamos os embriões em estado de clivagem (divisão).

Neste dia esperamos que os embriões tenham de 2– 10 células. A classificação de embriões em D3 é feita pela contagem do número de células e pela quantidade de fragmentação:

  • Número de células: embriões clivados em D3 possuem de 6 a 10 células.
  • Grau de fragmentação: quantidade de fragmentos presentes no embrião, que são resultantes de divisões celulares anormais. Um embrião de qualidade deve possuir baixa quantidade de fragmentos.

A classificação da fragmentação é dividida em 4 graus:

  • Fragmentação tipo A – até 10% de fragmentos
  • Fragmentação tipo B – até 20% de fragmentos
  • Fragmentação tipo C – de 21 a 45% de fragmentos
  • Fragmentação tipo D – mais de 45% de fragmentos

Sendo assim, um embrião 8A, por exemplo, é classificado de A porque as células não têm fragmentação. Ou seja, são normais e perfeitas sem ter qualquer alteração. Já um embrião 7B significa que ele está no terceiro dia com até 8 células, porém uma das células foi fragmentada. Então tem até 10% de células imperfeitas.

Durante a checagem todos os embriões em desenvolvimento são fotografados, classificados e documentados no prontuário da paciente.

Embriões em estágio de clivagem D3

DIA 04

A partir dessa etapa em D3, as divisões celulares ficam aceleradas e o embrião vai se compactando. No D4, o embrião está com cerca de 32 células e nesse estágio é chamado de mórula. A formação da mórula representa a última etapa da fase de clivagem (divisão celular) e precede o blastocisto na evolução do embrião. Como não classificamos os embriões neste estágio seguimos o protocolo de não realizar a checagem.

DIA 05

O blastocisto é um embrião composto por aproximadamente 200 células e apresenta uma estrutura celular diferenciada, composta por uma cavidade central (blastocele) e por dois tipos de células: as células da trofoectoderma (que mais tarde vão formar a placenta) e as células da massa celular interna (que irão formar o feto). Na sua classificação devemos avaliar o seu grau de desenvolvimento e suas estruturas.

Nesta fase também tem uma classificação específica que surgem das letras e números. Assim, analisando a cavidade (blastocele), classificam-se os embriões de 1 a 6. Sendo 1 a blastocele menor e com menos chance de implantar, e 6 a blastocele maior, com o embrião já totalmente fora da sua cápsula.

Quanto às células da periferia, chamadas de células do trofoectoderma, analisa-se o número, as suas características, a sua compactação e regularidade. Nesse sentido, a Classificação é A, B ou C, sendo A o melhor e C o pior. A massa celular interna, que vai realmente desenvolver o bebê, a classificação é também A, B e C.

Nem todo embrião se desenvolve para o estágio de blastocisto?

Na Fertilização In Vitro, o comum é que os casais produzam embriões de classificação boa, intermediária e até ruim. Além disso, alguns embriões nem chegam a se desenvolver e param de evoluir no laboratório. Isso ocorre principalmente pela má qualidade dos gametas do casal, e por fatores ambientais ou externos. Portando os blastocistos são embriões já pré-selecionados naturalmente. Entorno de 40-50% dos embriões em desenvolvimento chegam ao estágio de blastocisto.

A esquerda: embrião parou o desenvolvimento / A direita: blastocistos

O que é uma biópsia embrionária?

A biópsia embrionária é uma técnica que pode ser utilizada na Fertilização in Vitro (FIV), com o objetivo de identificar possíveis alterações genéticas nos embriões.

Entre outros benefícios, as diferentes técnicas de análise genética embrionária permitem avaliar os riscos de alterações cromossômicas e a escolha do embrião mais viável, dependendo do caso de cada paciente. Como toda técnica ela também tem indicações personalizadas, como pacientes com idade avançada, abortos de repetição, alteração no cariótipo do casal e alterações genéticas na família.

Está técnica consiste em retirar um pequeno número de células do trofoectoderma do blastocisto, com auxílio de um laser e o microscópio. Essas células retiradas e congeladas são enviadas ao laboratório de genética para análise e o blastocisto após ser biopsiado é congelado e armazenado na clínica para aguardar o resultado da análise genética.

O laudo da análise genética nos diz quais embriões são Euplóides (geneticamente normais) e quais são Aneuplóides (geneticamente alterados). Em um outro ciclo de preparo endometrial, este embrião euplóide escolhido é descongelado e transferido para o útero.

Transferência Embrionária em D5/D6/D7 (Blastocisto)

A maioria dos especialistas recomenda que a transferência embrionária aconteça em estágio de blastocisto, devido às melhores taxas de gestação, pois neste estágio de desenvolvimento o embrião já sofreu uma seleção natural dentro do laboratório. E é nesta fase que na gravidez natural o embrião está pronto para se fixar à cavidade uterina.

Além disso, nesta fase é possível realizar análise genética pré-implantacional permitindo a seleção de embriões geneticamente normal para a transferência.

Segundo a Resolução nº 2.294/2021, do Conselho Federal de Medicina (CFM), o número de embriões a serem transferidos deve seguir as seguintes determinações:

– Mulheres com até 37 anos: podem transferir até dois embriões;

– Mulheres com mais de 37 anos: podem transferir até três embriões;

– Em caso de embriões euplóides ao diagnóstico genético, podem ser transferidos até dois embriões euplóides, independentemente da idade

– Nas situações de doação de óvulos, considera-se a idade da doadora no momento de sua coleta para limitar o número de embriões a ser transferidos (habitualmente até 2).

A decisão pela transferência de um único embrião ou mais deverá ser realizada considerando as particularidades de cada caso. Entre os fatores a serem avaliados incluem-se:

A transferência do embrião ao útero é a parte final da Fertilização In Vitro (FIV), e pode ocorrer na sequência do ciclo da FIV (a fresco ou descongelado), ou em um ciclo para transferência do embrião previamente congelado. O preparo para transferência de embrião descongelado pode ser natural ou induzido.

Os demais embriões neste estágio, que não forem utilizados neste ciclo, podem ser congelados para uma futura gestação por reprodução assistida.

Source: © 2013 Lisa Clarke courtesy of Cook Medical, Bloomington, Indiana, USA.

Criopreservação

Após o processo de fertilização, os embriões em clivagem D3 ou os que chegarem ao estágio de blastocisto (5º a 7º dia de desenvolvimento) que não foram usados naquele ciclo de FIV, são criopreservados em nitrogênio líquido, -196°C, pelo método de vitrificação. Dessa forma, o congelamento preserva todas as características do embrião por tempo indeterminado, podendo ter uso anos mais tarde.

Embriões são criopreservados em palhetas de vitrivicação e armazenadas em Botijões de nitrogênio líquido a -196ºC.

Dra. Karina Fattori

Embriologista – CRBio 113080/01

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Centro de Reprodução Humana Wahib Hassan

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